Respostas eternas às perguntas do Mundo com José Cymbron

     No largo do Carmo e na Praça Luís de Camões, em  manhã cheia de luz, com ajuda da poesia e do texto de vários nomes da nossa literatura, um grupo de professores refletiu sobre as eternas perguntas do Mundo. 

Trocaram-se experiências de trabalho, lembrámos Salgueiro Maia, ouvimos António de Sousa Mendes, lembrando a coragem do seu avô Aristides de Sousa Mendes.

 José Cymbron guiou-nos através de palavras sábias sobre as velhas e ainda tão presentes questões sobre os Direitos Humanos.        


1. Uma terra onde não passam eternamente os destinos do mundo, não pode, como é natural, albergar ininterruptamente a inspiração dos oráculos. Mas, apesar disso, os oráculos gostam do seu clima, e às vezes dão nele respostas eternas às perguntas do mundo.  
   
 (Torga, Traço de União - Panorâmica da Literatura Portuguesa). 

2. Dos versos que eu li
(Bem mais de um milhão)
Tão poucos senti
no meu coração!
E dos que o tocaram,
Quantos lá ficaram?
Quantos florirão?
e esses ainda
(Tão menos ainda!)
Que fruto darão?   
       
  (Carlos Queiroz, Breve Tratado de Não Versificação)

3. Homem 
Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
Nem cinzéis,
Nem acordes,
Nem pincéis
São gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
Desde mais infinito a menos infinito.
(António Gedeão, Poemas Escolhidos - Antologia Organizada pelo Autor)

4. Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas,
só faltava uma coisa - salvar a humanidade. 
(Almada Negreiros, a invenção do Dia Claro)  

5. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. 
(1º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos . 

6. (...) as guerras são a maneira mais infame, preguiçosa e cobarde que o homem congeminou de dirimir diferenças e conflitos de interesses.
(Eugénio Lisboa, Acta Es Fabula - Memórias - Lisboa)

7.Bellum sine Bello 
(Pessoa, Mensagem)

8. Os cépticos têm razão quando dizem que a história da humanidade é uma longa sucessão de oportunidades perdidas. 
(Saramago, A viagem do Elefante)

9. Os mais experimentados levantai-os,/(...) pois que sabem/ o como, o quando, e onde as coisas cabem. 
 Camões, Os Lusíadas -  cap.X, est.149)

10. Que as forças cegas se domem/Pela visão que a alma tem!
 (Pessoa, Mensagem, O Quinto Império)

11. Mundos sem fim dum simples pé de flor,
Profunda voz de quantas cousas belas
Auscultei por ofício de cantor,
Que me sois vós, e me é toda a beleza,
Se alguém me ofende ou a digestão me pesa?
(José Régio, El-Rei Sebastião)

12. A humildade e a paciência...essas virtudes que vieste (Cristo) ensinar ao mundo.....
(José Régio, El - Rei Sebastião)

13. Há "carvalhos, e velhos castanheiros,/A cuja sombra um dormitar celeste/ Pode tornar os sonhos verdadeiros."
(Torga, Libertação - Mensagem) 

14. O rei de Ítaca
A civilização em que estamos é tão errada que
Nela o pensamento se desligou da mão

Ulisses de Ítaca carpinteiro seu barco
Gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado  
(Sophia, O Nome das Coisas)

15. A querer imitar ou suplantar o alheio, apenas se consegue diminuir o próprio . Grande só a multiplicação incansável do autêntico .
(Torga, Portugal - O Porto)

16. Não há falência maior do que imitar o passado, mesmo que seja nosso. 
(Torga, Contos da Montanha  - Solidão)

17. Viver é ser no tempo intemporal / É nunca, a ser o mesmo, ser igual/ É encontrar quando nada se procura. 
(Torga, D.6-9-91)

18. Viver é sobretudo amar e ser amado.
(Torga, D. 11-7-1944)

19. A paz genuína é "lúcida  e laboriosa." 
(Torga, Pedras Lavradas, Barragem) 

20. Carpe Diem. O velho Horácio disse-o provavelmente quando, como eu agora, já não podia recuperar nenhuma das muitas horas perdidas. (...)

Carpe Diem. Foi-nos recomendado, e bem recomendado. Mas o talvez mais clarividente 
alerta que em todos os tempos um poeta nos fez, não teve, nem tem, ouvidos capazes de o ouvir. (Torga, D. 21-10 - 1993)

21. Museu 
Aqui - como convém aos mortais -
Tudo é divino
E a pintura  embriaga mais 
Que o próprio vinho 
(Sophia - O Nome das coisas)

22. Gosto de cismar (...) Cismar não é preguiçar (...) é activo. (...) Tomo decisões, raciocino, arquitecto.)
(Adília Lopes, Dias e Dias). 

22.. O bico da pena penteia a cabeleira da linguagem.  
(Provérbio)

23. quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor. 
(Pessoa, Mensagem, Mar português)

24. Estilo Manuelino:
Não a nave românica onde a regra
Da semente sobe da terra 
Nemo fuste de espiga
Da coluna grega 
Mas a flor dos encontros que a errância 
Em sua deriva agrega 

(Sophia, Navegações) 


                                                                                                 Salgueiro Maia 

SALGUEIRO MAIA

Ficaste na pureza inicial
Do gesto que liberta e se desprende.
Havia em ti o símbolo e o sinal
Havia em ti o herói que não se rende.

Outros jogaram o jogo viciado
Para ti nem poder nem sua regra.
Conquistador do sonho inconquistado
Havia em ti o herói que não se integra.
(...)                (Manuel Alegre, País de Abril - Uma Antologia)


SALGUEIRO MAIA

Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso 
Não colaborou com sua ignorância ou vício

Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse        
(Sophia, Musa)


Largo do Carmo 





                                  
      Luís de Camões  Estátua em bronze de Víctor Bastos -1860




  

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