Ai Weiwei em Serralves, pela justiça ambiental

Ai Weiwei em Serralves, pela justiça ambiental

O estado de emergência ambiental em que vivemos é o tema da segunda grande exposição de Ai Weiwei em Portugal. Depois de Rapture, inaugurada em Lisboa no mês passado, o artista chinês parte à conquista do Porto.

O amor pelas árvores herdou-o Weiwei do pai, o poeta Ai Qing, com quem em criança

 se habituou a passear na floresta.

© Pedro Granadeiro/Global Imagens


"Chama-se Entrelaçar e, no entanto, segundo Ai Weiwei, a sua exposição inaugurada esta quinta-feira, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, bem podia levar o subtítulo "um alerta poético sobre a nossa relação com a natureza". Abordando o conceito de árvore quer como acontecimento biológico, quer como metáfora da vida em sociedade, as obras agora apresentadas, sobretudo Iron Roots [Raízes de ferro] (2019) e Pequi Tree [Pequi vinagreiro] (2018 - 2020), fazem parte de um corpo de trabalho que reflete o interesse e a preocupação do artista com o ambiente, em particular com a desflorestação da mata atlântica brasileira. Em causa está a necessidade de se reivindicar uma justiça ambiental, tal como a reclamamos noutras áreas. "Os problemas com a floresta amazónica", diz, "não dizem respeito apenas ao Brasil, mas a toda a humanidade, todos somos co-responsáveis. A China, de onde venho, tem contribuído muito para a delapidação dos seus recursos. O mesmo se pode dizer de outras potências."

Este amor pelas árvores herdou-o Weiwei do pai, o poeta Ai Qing, com quem em criança se habituou a passear na floresta, a nomear as espécies e a conhecer os seus segredos. "O meu pai acreditava que as árvores conseguem comunicar entre si subterraneamente", recorda. "Juntos recolhíamos ramos, raízes, folhas e levávamo-los para casa. Era muito bonito".

Mas desse pai dado à poesia e à botânica, o artista não se limitou a herdar os amores (o que não seria pouco), pelo menos em modo contemplativo. Opositor do regime de partido único chinês, Ai Qing (1910-1996) esteve várias vezes preso, foi, em determinado momento, impedido de viajar e de exercer qualquer outro trabalho para além da limpeza das latrinas públicas da sua cidade. Ainda assim, nunca desistiu de tentar passar a sua mensagem, através da poesia. Na sua esteira, Weiwei tornou-se também um homem de causas e não hesitou em confrontar, também ele o governo chinês. Fê-lo em 2008, a propósito do terramoto de Sichuan, quando as autoridades se recusavam a revelar os nomes e o número real de vítimas da tragédia, o que lhe valeu a prisão e posterior impedimento de sair da China. Doravante, Weiwei não mais deixou de assumir posições de confronto com os poderes instituídos, no seu país ou fora dele, através de linguagens artísticas tão diversas como a fotografia, o multimédia, a escultura ou a performance a propósito de questões como os refugiados e migrantes forçados ou a luta pela democracia em Hong Kong.

© Pedro Granadeiro/Global Imagens

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