Trabalhos de alunos * PROJETO ASAS VERDES
Iniciamos hoje a publicação de trabalhos de alunos das várias escolas e turmas inscritas no Projeto Asas Verdes.
De Moncarapacho
Agrupamento de escolas Francisco Fernando Lopes
Escola António João Eusébio
Hermione, Deusa da Ria Formosa
Estávamos no verão de 1890, quando a vi pela primeira vez num pequeno bosque perto de Olhão. Devia ter por volta de 18 anos, cabelo castanho que brilhava quando o sol batia, uma pele delicada, uns olhos azuis como uma safira que encantavam qualquer um mas ao mesmo tempo tão tristes e vazios. Tinha qualquer coisa de irreal... cheguei a pensar que se tratava de um delírio, mas quando a vi dar comida a um pequeno passarinho que tinha caído do seu ninho percebi que era real. Não consegui dizer uma única palavra. Estávamos só os dois no meio do bosque, quando ela se dirigiu a mim para perguntar para que lado ficava Olhão. Naquele momento, senti o meu corpo a congelar, sem saber o que fazer. Então ela insistiu na pergunta e eu percebi naquele momento que tinha mesmo de responder, caso contrário corria o risco de parecer um tolo qualquer. Disse-lhe que Olhão ficava para a direita e ela agradeceu-me. Mas eu não podia deixá-la partir sem saber primeiro o seu nome. Quando perguntei, ela deu um pequeno sorriso e disse-me que se chamava Hermione. Respondi que era um nome lindo e foi aí que me contou o seu significado: é um nome que vem do grego e significa espírito da vida. Achei por bem dizer-lhe que me chamava Theo, que por acaso também tem origem grega. Hermione sorriu e disse, seguindo o seu caminho: “Até um dia, Theo!”
Não houve um único dia em que eu não pensasse nela. Era como se tivéssemos ficado ligados. Que loucura! Eu nem sequer a conhecia, como é que podia sentir a necessidade incontrolável de a ver de novo?
Passado um mês, voltei ao bosque e lá estava ela sentada numa pedra a dar comida a um cão que parecia estar abandonado. Durante uns minutos fiquei ali parado, completamente deslumbrado com a sua beleza e olhei para ela como se não existisse mais nada, até que decidi ganhar coragem e dirigi-me a ela. Conversámos até ao anoitecer: contou-me sobre a sua mãe que tinha falecido há cerca de três meses por causa de uma doença incurável, e que era ela quem cuidava da mãe. Contou-me também que, em criança, costumava passear todos os fins- de-semana com a mãe por aquele bosque e desde essa altura que sente uma grande conexão com os animais e com a natureza. Estar ali fazia-a sentir como se a sua mãe estivesse ao seu lado.
Fui percebendo pouco a pouco (o que me deixava extremamente perturbado) que Hermione vivia num constante sofrimento, pois fora abandonada pelo pai quando era ainda bebé e a sua única família era a mãe e a avó.
Mesmo já tendo passado por tanto, era uma pessoa que amava a vida e adorava as pessoas por muito cruéis que elas fossem. Eu nunca tinha conhecido alguém como ela.
Vários meses se passaram e nós continuámos a encontrar-nos todos os fins-de-semana. Cada hora que passava com ela era única, conhecíamo-nos tão bem um ao outro que era como se estivéssemos destinados, tudo parecia um conto de fadas que eu não queria que terminasse.
Porém, havia algo que me preocupava e que eu escondia: os animais no nosso bosque estavam a desaparecer, devido a um caçador que caçava apenas por diversão, o que estava a acabar com a vida de inúmeros animais. Sentia-se na natureza uma tristeza profunda: os pássaros já não cantavam, os coelhos não saíam da toca, as raposas andavam sempre escondidas, e isso incomodava-me cada vez mais.
Era 4 de julho de 1892. Hermione estava muito contente porque era o seu aniversário e tínhamos combinado ir fazer um piquenique no nosso sítio. Até lhe comprei uma prenda. Quando cheguei, ela já tinha tudo preparado. Comemos e ficámos a ler o seu livro preferido. Pouco tempo depois, pediu-me para eu ir com ela - pretendia apresentar-me a sua avó. Aquele estava com certeza a ser o dia mais feliz da minha vida.
Levantei-me e comecei a caminhar, imensamente feliz com a decisão de Hermione. Afinal, era o que eu mais queria. Quando ela se levantou, observou um caçador com um arco e flecha a apontar para uma pequena raposa. Hermione atirou-se imediatamente para a frente para proteger a raposa. Subitamente foi atingida no peito por uma flecha, caindo desamparada no chão. Desesperado, gritei o mais alto que consegui, porque o sangue de Hermione escorria por debaixo do seu corpo. Neste instante, o caçador fugiu assustado.
Segurei Hermione nos meus braços, tentando fazer tudo o que podia para a reanimar, mas nada parecia resultar naquele momento de angústia e agonia. Encostei a minha cabeça ao seu peito e ouvi então aquela que foi a última batida do seu coração.
Quando a deitei no chão, o meu coração partiu-se em mil pedaços. Sentia-me destroçado e permaneci ali, de joelhos, ao seu lado, como se estivesse à espera de um milagre. Foi aí que um pequeno bando de pássaros veio e pousou em volta dela. A seguir vieram os coelhos. As borboletas cobriram o seu corpo como um manto e por último vieram as raposas. A pequena raposa pela qual ela deu sua vida encostou a cabeça à dela. Como que por magia um feixe de luz iluminou as borboletas e pude ver algo a levantar-se. Não podia acreditar! Era como se a natureza a tivesse regenerado. Eu olhei e vi-a pairando naquele feixe de luz. Nada daquilo me fazia sentido. Das suas costas, começaram a surgir umas asas verdes.
Eu não tinha palavras, estava pasmado com o que estava a acontecer. Serenamente, ouvi uma voz doce e meiga. Reconheci-a instantaneamente - era a voz de Hermione.
- Theo, serás para sempre o meu primeiro amor, mas a minha vida enquanto humana acabou. Eu agora sirvo a natureza e protegê-la é a minha missão. Preciso que chegues à cidade e contes a todos o que aconteceu, mas primeiro fala com a minha avó e diz-lhe por favor que eu a amava. Cada canto dos pássaros, cada raio de sol que incidir em ti, cada gota de água que cair, pensa que é uma mensagem minha a dizer que te amo. Eu sei que te custará e sei que dói muito perder alguém que amamos. Mas preciso que sejas forte e sigas a tua vida.
Com lágrimas nos olhos e o coração partido prometi-lhe que o faria. E então ela desapareceu. Era como se tudo tivesse sido um sonho. A partir desse dia Hermione começou a ser lembrada como “A Deusa Da Ria Formosa”, como aquelas lendas típicas de Olhão, tal como o menino dos olhos grandes ou a Floripes. A partir daquele dia, qualquer um que tencionasse fazer mal à natureza era surpreendido com uma linda mulher que cantava até os ensurdecer.
Provavelmente, caros leitores, perguntar-se-ão como será que eu estou. De coração partido, sabendo que a minha alma gémea já não está ao meu lado, mas sempre com um sorriso por ter tido a oportunidade de sentir tudo aquilo. O amor que sentia por ela fez-me querer ser alguém melhor e às vezes ainda consigo senti-la nas pequenas coisas como nas gotas de água, no vento que bate no meu rosto nas tardes quentes de verão e, por mais estranho que pareça, quando me sento naquele bosque a ler é como se ela estivesse ali ao meu lado, como se nunca tivesse partido. Quem sabe se, noutra vida, nos reencontramos...
*
A natureza, algo inexplicável que torna o mundo num lugar colorido, vivo e feliz.
Vivo no campo desde sempre, logo a presença de árvores, flores, pássaros e qualquer outro tipo de animal faz parte do meu dia a dia. É tão importante para nós seres humanos o contacto com o mar, as florestas, as montanhas, lugares em que a biodiversidade é infindável e onde o ar puro é garantido.
Lembro-me de acordar e ao abrir a janela do meu quarto, observar toda aquela paisagem coberta de cor, mais propriamente o verde das árvores, que até um determinado local o meu campo de visão me permite observar. Mas não é tudo: o sol ao bater suavemente na minha cara faz-me sentir a sua energia a entrar em todo o meu corpo. O som dos milhares de espécies de pássaros neste sítio é inacreditável, dá-me força e motivação para o longo dia que tenho pela frente, sem esquecer o céu azul que parece infinito.
É notável tudo o que a natureza transmite numa simples paisagem não modificada pela mão humana, muitas vezes nada valorizada por nós que a destruímos para obter lucro ou numa forma de satisfazer as necessidades humanas. A desflorestação em grandes bosques é um exemplo do mal que praticamos diariamente na natureza, o mais irónico é que nós precisamos das árvores e das plantas para recebermos oxigénio, pois sem ele a vida do ser humano corre risco. Outro exemplo é a pesca e a caça excessiva que coloca em extinção diversas espécies de animais, o que modifica a biodiversidade de um determinado local, apenas para que nós tenhamos alimento em excesso. O mais surpreendente é que apesar de criarmos estes danos ainda a poluímos, como acontece nas praias, locais lindos, onde a água é cintilante e onde os humanos desfrutam a maior parte do tempo, no verão. A quantidade de lixo recolhida nas praias é enormíssima e assustadora! Como é que nós somos tão egoístas ao ponto de poluirmos assim o planeta em que habitamos? Enfim, acho que a natureza e o planeta mereciam melhor.
Estamos constantemente a centrar-nos apenas nos nossos problemas e na nossa vida e esquecemo-nos de parar, observar e desfrutar do que a natureza nos proporciona: a beleza das cores no outono, o ciclo de migração das aves, o arco-íris depois de uma grande chuva em pleno inverno, os dias frios com um sol escaldante, o cheiro da terra molhada, nas manhãs, o pôr do sol naqueles dias longos de verão, o crescimento daquela roseira que plantei no quintal e que agora está mais linda que nunca, as amendoeiras em flor, as borboletas brancas a sobrevoar as flores, o amarelo do pólen caído pelo chão depois da tentativa de uma abelha o transportar e tantas outras coisas que vivencio. A natureza é isto, é paz à nossa volta a que poucas vezes damos importância.
Maria Inês Baptista Lopes No14 9ºC
5 de fevereiro 2021
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