HOMENAGEM A ARISTIDES DE SOUSA MENDES





   Meninos/as Gaviotas


   Ontem, dia 18 de junho de 2020

   O despojamento da Igreja e os agapantos surpreendidos no             Claustro

   A música de orgão, e os cânticos da Susana

   As palavras do Frei Filipe

   A Gaviota no Altar

   A história do António

   O Poema É Urgente

   Os Netos de Aristides  

   O "Textinho" da Clarinha 

    A canção da Gaivota...


    Iluminaram os nossos corações e

    Clarearam  os céus da Cidade.
  

   Foi um (Re)Encontro Indizível!

   BEM HAJAM!






 


Aristides herói português

"Era uma Escola de Intervenção Prioritária, situada num bairro de segregação social. Cheguei para substituir uma professora e fiquei com uma turma do 3º e 4º anos de
escolaridade, com alunos entre os 10 e os 13 anos de idade. Cada dia parecia uma semana. Eram tantos os acontecimentos que, numa escola “normal”, dariam para 
um ano de conversas e preocupações; roubos, atos de vandalismo, ofensas racistas e outras agressões (verbais e físicas). Para muitas crianças, o dia começava muito antes de chegarem à escola, com uma rusga feita de madrugada e outras tantos dramas, que nem queremos imaginar… O que mais me impressionava é que aquelas crianças não manifestavam sentir a dor como as outras crianças que eu tinha conhecido. Não choravam com um chute na cabeça, não choravam quando se queixavam três semanas com dores de ouvidos, nem quando a otite rebentava à minha frente, nem  quando eu mostrava o meu sentido pesar. A dor fazia parte dos seus quotidianos.

Na escola, deparei-me com uma cultura muito determinista. Avisaram-me de todos os cuidados que deveria ter (não receber pais sem a presença do “segurança”, não deixar a mala à mão de semear, se houvesse brigas chamar imediatamente o segurança ou o mediador) e, alguém me esclareceu, que nada havia a fazer. Eles não iriam aprender! “Passas os exercícios no quadro, escreves as respostas e eles copiam para o caderno ou para os manuais.” Simples assim… Engoli em seco, mas, no meio da tempestade, com as suas as suas asas de vento e os seus corações de mar, comecei a avistar gaivotas. Andavam por ali e, curiosas, iam espreitando para dentro das salas. Convidei-as a entrar e elas não só entraram como quiseram ficar e parecia que nos queriam ensinar a voar… Não podia deixar de aceitar o desafio e juntas, com o nosso bando de meninos, voámos. Voámos pelo mundo, voámos pela poesia, pela arte, pela ciência, pela matemática. Voámos pelo conhecimento e pelos grandes valores da humanidade.

Neste contexto, o estudo de outras culturas e dos poetas e escritores que cantaram o humanismo e que os alunos enalteceram na peça final de teatro, serviram-nos de mediadores a favor da tolerância. Dos muitos projetos que desenvolvemos ao longo do ano, o estudo do Aristides de Sousa Mendes foi dos mais acarinhados pelos alunos. A história deste herói português (como, carinhosamente, era chamado pelos meninos) impressionou-os. Permitiu-lhes explorar temáticas e refletir sobre o racismo e a violência, mas, também, sobre a beleza da vida, a amizade, o amor e a justiça social. Ao perceberem como uma só pessoa pode salvar milhares de vidas, puderam compreender o valor de um homem e, através dele, descobrir a força da humanidade e a responsabilidade que temos sobre os nossos atos, não deixando ninguém para trás.

A caneta tornou-se para estes meninos um símbolo de poder e de responsabilidade e foi com imenso orgulho que todos quiseram tocar-lhe e apertar a mão do neto deste nosso herói que, gentilmente, nos visitou e mostrou a caneta do seu avô.

E termino com uma produção de um grupo de alunos, num momento em que havíamos combinado escrever quadras de Santo António. Este poema, aparentemente desajustado, dada a atividade proposta, encheu-nos de alegria. Havíamos acabado de estudar o Aristides de Sousa Mendes e, este grupo de alunos, face à sua história tão inquietante, não conseguiram fazer rimos para o Santo António, perdoe-nos o Padroeiro de Lisboa, tiveram de enaltecer a memória do seu herói."                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Clara Bonaccorso         
                                  


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