BALADA INGÉNUA SOBRE AS BOMBAS INTELIGENTES

 


BALADA INGÉNUA SOBRE AS BOMBAS INTELIGENTES 

Se as bombas inteligentes

fossem mesmo inteligentes

não eram bombas.


Eram fraldas descartáveis,

meias de ligas,

sandálias,

cafeteiras, fósforos, colheres,

lenços ao pescoço,

búzios na areia,

lençóis de linho,

livros de poesia,

coisas úteis, verdes,

brancas,

coisas de água e vento.


Se as bombas inteligentes

fossem mesmo inteligentes

eram flores, 

simplesmente flores,

sem simbolismos nem lirismos,

flores concretas 

a tremer no ar tépido da tarde,

flores com abelhas a zumbir à volta,

flores azuis,

nascidas da terra,

flores amarelas, roxas, violetas,

margaridas, cravos, miosótis,

rosas repetidas

para além de todas as evidências.


Se as bombas inteligentes

fossem mesmo inteligentes

explodiam ininterruptamente 

em cada Primavera

e mesmo que não fosse Primavera

explodiam

pelo simples e desvairado prazer

de lançar em todas as direções

ogivas carregadas

de brisas cantantes,

águas felizes

e pólen. 


José Fanha e Jorge Letria 

Poemas da Linha da Frente    A Guerra





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